"A vida assim nos afeiçoa
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: – Vem!
Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;
Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
– Olvido, imperturbável, onde
'Não restará nada de mim!'
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.
Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.
E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.
A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel..."
*Manuel Bandeira*
Em "Poesia Completa e Prosa", São Paulo, Editora Nova Fronteira, Volume Único, 5ª Edição, 2009.
Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: – Vem!
Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;
Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
– Olvido, imperturbável, onde
'Não restará nada de mim!'
Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.
Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.
E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.
A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel..."
*Manuel Bandeira*
Em "Poesia Completa e Prosa", São Paulo, Editora Nova Fronteira, Volume Único, 5ª Edição, 2009.
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