quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A mais dolorosa das histórias

Silêncio,
Façam silêncio
Quero dizer-vos minha tristeza
Minha saudade e a dor
A dor que há no meu canto

Oh, silenciai
Vós que assim vos agitais
Perdidamente em vão
Meu coração vos canta
A mais dolorosa das histórias
Minha amada partiu
Partiu

Oh, grande desespero de quem ama
Ver partir o seu amor.


*Letra: Vinicius de Moraes/Composição: Claudio Santoro*

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Livro dos Amantes

[...]

IX

Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.

Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo.


*Natália Correia*
Em  “Natália Correia - Poesia Completa”, Lisboa, 

Editora Publicações Dom Quixote, 4ª Edição/Reimpressão,1999.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Vale

Sou como um vale, numa tarde fria,
Quando as almas dos sinos, de uma em uma,
No soluçoso adeus da ave-maria
Expiram longamente pela bruma.

É pobre a minha messe. É névoa e espuma
Toda a glória e o trabalho em que eu ardia...
Mas a resignação doura e perfuma
A tristeza do termo do meu dia.

Adormecendo, no meu sonho incerto
Tenho a ilusão do prêmio que ambiciono:
Cai o céu sobre mim em pirilampos...

E num recolhimento a Deus oferto
O cansado labor e o inquieto sono
Das minhas povoações e dos meus campos.


*Olavo Bilac*
Em “O Caçador de Esmeraldas e outros poemas”, Rio de Janeiro, Editora Ediouro, 1997, pág. 80.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O Que Desejei às Vezes 


O que desejei às vezes
 Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje - que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.


*António Tomás Botto*

  Em "Livro na Rua" (Biblioteca do Cidadão, Série Escritores Portugueses Clássicos),
  Thesaurus Editora de Brasília, 2006