“DE JOELHOS
A Santa Teresa
Reza de manso... Toda de roxo,
A vista no tecto presa,
Como que imita a tristeza
Daquelle cirio tremulo e frouxo...
E assim, mostrando todo o desgosto
Que sobre sua alma pesa,
Ella reza, reza, reza,
As mãos erguidas, pállido o rosto...
O rosto pállido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo,
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mystérios e de outras vidas...
Implora ao Cristo, seu Casto Esposo,
Numa prece ou num transporte,
O termo final da Morte,
Para descanso, para repouso...
Psalmos doridos, cantos aéreos,
Melodiosos gorgeios
Roçam-lhe os ouvidos, cheios
De mysticismos e de mystérios.
Reza de manso, reza de manso,
Implorando ao Casto Esposo
A Morte para repouso,
Para socego, para descanso
D'alma e do corpo, que se consomem,
Num desanimo profundo,
Ante as misérias do Mundo,
Ante as misérias tão baixas do Homem!
Quanta tristeza, quanto desgosto
Mostra n'alma aberta e franca,
Quando fica, branca, branca,
As mãos erguidas, pállido o rosto...
O rosto pállido, as mãos erguidas,
O olhar choroso e profundo,
Parece estar no Outro-Mundo
De outros mystérios e de outras vidas.”
*Francisca Júlia da Silva Munster*
Em "Esphinges (Versos)", Editores Bentley Júnior & Comp., Primeiro milheiro, 1903.