domingo, 7 de dezembro de 2014

ANGELUS

                                                      A Filinto d'Almeida

Desmaia a tarde. A pouco e pouco, no poente,
O sol, rei fatigado, em seu leito adormece;
Uma ave canta, ao longe; o ar pesado estremece
Do Angelus ao soluço agonico e plangente.

Psalmos cheios de dor, impregnados de prece,
Sobem da terra ao céo numa ascenção ardente.
E enquanto o vento chora e o crepusculo desce,
A Ave Maria vai cantando, tristemente.

Nest’hora, muitas vezes, em que falla a saudade
Pela bocca da noite e pelo som que passa,
Lausperenne de amor cuja magua me invade,

Desejo ser a noite, ebria e douda
De trevas, o silencio, a nuvem que esvoaça,
Ou fundir-me na luz e desfazer-me toda
.”

*Francisca Júlia da Silva Munster*
Em "Esphinges (Versos)", Editores Bentley Junior & Comp., Primeiro milheiro, 1903.

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