quinta-feira, 30 de abril de 2015

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas?  Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra…)

Quero solidão.

*Cecília Meireles*
Em “Antologia Poética”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 3ª Edição, 2001, pág. 53.
O silêncio

Há um grande silêncio que está à escuta...

E a gente se põe a dizer inquietamente qualquer coisa,
qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até a tua dúvida metafísica, Hamleto!

E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta...
e cala.


*Mario Quintana*
Em “Esconderijos do Tempo”, São Paulo, Editora L&PM Pocket, 1ª Edição, 1980.
Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar
.”

*Fernando Pessoa*
Em “Cancioneiro – Obra Poética V ”, São Paulo, L&PM Pocket Editores, 1ª Edição, 2007.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Minha infância

                                             (Freudiana)

Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto,
veio outra que ficou sendo a caçula.

Quando nasci, meu velho Pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.

Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
‘− Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente’.

Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula sem cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa.

Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
‘− Levanta, moleirona’.

Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
‘− Levanta, pandorga’.

Caía à toa…
nos degraus da escada,
no lajeado do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
‘– Levanta, perna-mole…’

E a moleirona, pandorga, perna-mole
se levantava com seu próprio esforço.

Meus brinquedos…
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis…
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.

E a casa me cortava: ‘menina inzoneira!’
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.

A rua… a rua!…
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
− proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
− emparedavam.

A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.

Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.

Contenção… motivação… Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gestar dentro de mim…
Um mundo heroico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.

E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
‘– Menina inzoneira!’
O sinapismo do ablativo
queimava.

Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar…
E a certeza de estar sempre errando…
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.

Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre…
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.

Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
‘− Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido!’

Melhor fora não ter nascido…
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
− ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.

Sem carinho de Mãe.
Sem proteção de Pai…
− melhor fora não ter nascido.

E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.


*Cora Coralina*
Em “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, São Paulo, Editora Global, 14ª Edição, 1984.

domingo, 19 de abril de 2015

FLAUTA DOCE

Teu amor me vem e toca
como flauta o entardecer
de alguma aurora remota
que ainda sonha renascer.

E me sonhas como flauta
que reinventa o alvorecer
tocando o sonho de volta
na canção do amanhecer.

Tu me fazes a alma doce
como se minh’alma fosse
um prenúncio de desejo...

E minh’alma enamorada
vai no lume da alvorada
ao encontro de teu beijo...


*Afonso Estebanez*

Extraí daqui: http://amagiadaexpressaoliteraria.blogspot.com.br/2008/10/flauta-doce.html
Imagens que Passais pela Retina

Imagens que passais pela retina
dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
por uma fonte para nunca mais!....

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
− Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?
− O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
− Estranha sombra em movimentos vãos.


*Camilo Pessanha*
Em “Clepsidra”, São Paulo, Editora Ateliê Editorial, 1ª Edição, 2009.
O meu orgulho

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas... Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: ‘Não merecem...’
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada!


*Florbela Espanca*
Em “Sonetos”, Lisboa, Editora Europa-América, 4ª Edição, 1985, pág. 78.
FAZ DE CONTA

Faz de conta que é setembro
que setembro sempre espera
pelo amor de que me lembro
se em setembro é primavera.

Faz de conta que é alvorada
com auroras sempre abertas
e que a minha alma fechada
transponha a aurora deserta.

Se meu deserto é sem água
sou meu setembro sem flor.
Flor que rego com a lágrima
dos meus espinhos de amor.

Só faz de conta que lembro
que teu coração me espera
regressar como o setembro
para a tua primavera...


*Afonso Estebanez*

Extraí daqui: http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1329025
Prince Charmant

No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas

Das noites da minh’alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente…
Olhos postos num sonho, humildemente…
Mãos cheias de violetas e de rosas…

E nunca O encontrei!… Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

 Ah! Toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas…
− Nunca se encontra Aquele que se espera!…


*Florbela Espanca*
Em “Sonetos”, Lisboa, Editora Europa-América, 4ª Edição, 1985, pág. 86.
Ousadia

Na ânsia de atingir o ignorado
Vai-se o tempo voraz, audacioso
Nas brumas de um enigma mergulhado
Não para de correr, misterioso.

Qual rio a transbordar agigantado
Investe sem cessar, tempestuoso,
Contra tudo que atira no passado
No mais terrível gesto, corajoso.

Com ele tudo passa: a dor, a vida
A alegria, o amor, as esperanças
No arrojo invulgar desta corrida.

Não olha para trás nem retrocede...
E vai deixando apenas as lembranças...
...Como quem parte que não se despede!


*Bernardina Vilar*
Em “Saudade da Vila”, São Paulo, Editora Moderna, 14ª Edição,
1994.

domingo, 12 de abril de 2015

Teus olhos entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
”     

*Fernando Pessoa*
Em “Cancioneiro –
Obra Poética V”, São Paulo, L&PM Pocket Editores, 1ª Edição, 2007.
Recordação

Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.
Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.

As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exalação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.
E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.

Restituiu-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha
− e incompreensíveis, incompreensíveis.
”   

*Cecília Meireles*
Em “Antologia Poética - Organização da Autora”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 3ª Edição, 2001.
A Procura

Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino −
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza
Ela me fez entrar:
deu-me vestes nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.


*Cora Coralina*
Em “Cora Coralina - Colelção Melhores Poemas”, São Paulo, Editora Global, 2ª Edição, 2004.
Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


*Olavo Bilac*
Em “Melhores poemas de Olavo Bilac/Seleção de Marisa Lajolo”, São Paulo, 
Editora Global, 4ª Edição, 2003, pág. 106.
FLOR DA ALMA

Vem desse amor eterno de você
uma canção tangida pelo vento
uma flauta no som do pensamento
que ressoa na alma e não se vê...

Brisa da tarde nos florais do ipê
num cântico de beijos ao relento...
Um feitiço de amor à flor do tempo
que vem sem precisar dizer porquê...

Uma canção de ser tão docemente
percebida... Tão leve se pressente
que a gente nem precisa perceber...

Basta ao amor plural de sua vida
saber-se a alma eterna e resumida
na alma de uma flor no alvorecer...


*Afonso Estebanez*

Extraí daqui: http://amagiadaexpressaoliteraria.blogspot.com.br/2014_06_01_archive.html
EU

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos escrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me − pobre louca! −
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!


*Florbela Espanca*
Em “Obras Completas de Florbela Espanca”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 4ª Edição, 1992.
Por um grande amor

Nascer é como ouvir passar um rio
na concha do recôncavo da aurora
que acorda no crepúsculo sombrio
do tédio de passar sem ir embora!

Viver é como estar em pleno estio
de quando a primavera comemora
nos arco-íris do sonho o desfastio
de reflorir do estio de quem chora!

Sonhar é como reinventar o acaso
da causa dos amores sem destino
nas histórias de reinvenção da flor.

Morrer!... É como recontar o caso
de reinventar o sonho clandestino
de ter vivido por um grande amor!


*Afonso Estebanez*

Extraí daqui:
http://afonsoestebanez.blogspot.com.br/2008_07_01_archive.html

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Eu não acreditava
Que simplesmente a luz dum doce olhar
Tornasse a alma uma perfeita escrava.

Contudo, ó flor sem par,
Quando ontem, passando, tu me olhaste,
Mal imaginas que no mesmo olhar
A alma me levaste.


*António Maria Gomes Machado Fogaça*

Em
Versos da Mocidade e Poesias Dispersas (Obra Poética de António Fogaça),
Barcelos/Portugal, Publicação da Câmara Municipal de Barcelos, 1ª Edição, 1964.
A estranha lavra

Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.
E onde antes lavrara o amor,
E os hábitos próprios e as tradições,
Lavram ainda a alheia cizânia, o alheio ódio.

Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.

As mãos que lavraram firmas em pergaminho
Não irão lavrar os campos doloridos,
Ainda plenos da imagem dos mortos.

Lavraram acordos
Não lavraram a paz.

Onde antes lavraram os arados
Lavram fome, desespero e pranto,
Regando faces – campos de incertezas.

Lavraram acordos,
Não lavraram a paz.

O que lavra ainda em tudo é o grande medo,
E a desesperança, e o desencanto
Na face pálida dos que restaram vivos.

Lavraram acordos,
Não lavraram a paz,
Que atrás dos risos dos embaixadores
O fundo é o fumo avassalante dos incêndios
E choro vago das crianças sem amanhã.


*Otacílio Colares *
Em “O Jogral Impenitente”, Fortaleza, Editora Instituto do Ceará, 1965.
Flor Fluida

Era uma Flor; não sei que flor, mas era
toda perfumada para os meus sentidos;
um despertar em mim, nos tempos idos,
de um mundo que, hoje, sei, foi primavera.

Não lhe guardo as feições, e quando dera
para lembrar-lhe o rosto e os esquecidos
lavores naturais, que os meus sofridos
anos de andar e andar tornam quimera.

Se Flor, por que não guardo seu perfume?
Será que essa visão, fluida, oscilante,
mais não é que delírio e vã lembrança?

Pergunto-me, e não sei. Sei que resume,
talvez, no meu viajar longo e constante,
um derradeiro grito de esperança.


*Otacílio Colares*
Em “LEMBRADOS E ESQUECIDOS,  Volume II, Ensaios Sobre Literatura Cearense - 
Otacilio Soares”, Ceará, Editora Universidade Federal do Ceará, 1ª Edição, 1976.
Das Mãos

Dão-se as mãos quando a voz é insuficiente
e o olhar não basta a uma expressão perfeita
do quanto há que dizer-se a uma alma eleita
que se quer seja irmão, perenemente.

Dão-se as mãos, toda a vez que a chama ardente
vai mais além do que a razão aceita,
Ou quando o amor − transcendental − rejeita
o que é simples, comum e conseqüente.

Dão-se as mãos quando a vida era vazia
e, num momento, como por encanto,
dois que eram sós se encontram para a vida.

Dão-se as mãos quando, ao fim, com nostalgia,
com saudade e às vezes não sem pranto,
o amor se exprime numa despedida...


*Otacílio Colares*
Em “O Jogral Impenitente”, Fortaleza, Editora  Instituto do Ceará, 1965.