domingo, 31 de março de 2013

O meu soneto

Em atitudes e em ritmos fleumáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...

E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...

As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...

E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!...”        

*Florbela Espanca*
Em “Poemas de Florbela Espanca”, São Paulo, Editora Martins Fontes, 4ª Edição, 2005.
Tarde no mar

A tarde é de oiro rútilo: esbraseia.
O horizonte: um cacto purpurino.
E a vaga esbelta que palpita e ondeia,
Com uma frágil graça de menino,

Pousa o manto de arminho na areia
E lá vai, e lá segue o seu destino!
E o sol, nas casas brancas que incendeia,
Desenha mãos sangrentas de assassino!

Que linda tarde aberta sobre o mar!
Vai deitando do céu molhos de rosas
Que Apolo se entretém a desfolhar...

E, sobre mim, em gestos palpitantes,
As tuas mãos morenas, milagrosas,
São as asas do sol, agonizantes...”       

*Florbela Espanca*
Em “Obras Completas de Florbela Espanca”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1ª Edição, 1985.

sábado, 30 de março de 2013

Soneto

Ó virgens que passai, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar.

Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!

Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruína do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!”      

*António Nobre*
Em “A literatura portuguesa através dos textos”, São Paulo, Editora Cultrix, 24ª Edição, 1997.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Páscoa - Passagem - Paixão 
  
Rasgo-Te a carne... Por coroa, espinhos,
e do madeiro Te componho um leito.
Te oferto fel, nunca os mais finos vinhos;
meu beijo é lança, a lacerar-Te o peito.

Dou-Te o Calvário, em meus atos mesquinhos,

e Te amortalho com meu preconceito;
na cova obscura dos meus descaminhos,
enterro as sendas do maior preceito.

Eu sou aquela por quem deste a vida,

a ovelha ingrata... Sempre redimida...
A humanidade... Que levou-Te à cruz.

Sou egoísmo, inveja, ódio, vaidade,

e a cada Páscoa, em plena insanidade,
ouso pedir: ressuscita, Jesus!


*Patricia Neme*

Copiei daqui: http://patneme.blogspot.com.br/2010/03/pascoa-passagem-paixao.html
Soneto de Páscoa

Jesus, que ressuscitas neste dia,
faze que todo o aflito coração,
ontem triste, renasça na alegria
e na esperança da Ressurreição...

Fizeste ver àquele que não via,
com Teu sangue nos deste a Redenção;
Tua Doutrina sempre ficaria
nas palavras que nunca passarão!

E porque Teu amor foi o mais forte
que o Mundo teve, permanecerás
provando que também venceste a morte.

Filho de Deus, ó Cordeiro Pascal,
aclara-nos e deixa-nos a Paz
até voltares pra o Juízo Final!...

*Ialmar Pio Schneider*
Copiei daqui: http://ialmarpioschneider.blogspot.com.br/