terça-feira, 26 de março de 2013

Arte Poética

Da janela de onde olha a paisagem lá fora,
a escutar o fluir da água que canta e chora,
por sob a ponte, sempre em mesmo diapasão,
como se o rio fosse a música do chão,
o poeta sonha...

Desce a sombra nas calçadas.

Alguém passa assobiando umas notas trinadas.
O ar amortece... A brisa é terna como um beijo
nos olhos... E, ao sabor da brisa, sem desejo,
sem ânsias e sem pressa, erra o seu pensamento,
vadiamente, como um pássaro ao relento...

Pouco a pouco, porém, a doçura da tarde

que os contornos suaviza e que as folhas encarde,
e esse esparso langor da hora crepuscular
em que tudo parece estático, a cismar,
despertam na sua alma ignota melodia.

Memória... 
exaltação... delícia... nostalgia...
Silêncio. A natureza arfa e se exaure, lassa.
Fechar de asas e sons e ruídos em que passa
a eterna indagação do crepúsculo... E quando
no céu amplo e disperso
nasce a primeira estrela cintilando,
nasce o primeiro verso...


*Onestaldo de Pennafort*

Em “Poesia”, Rio de Janeiro, Editora Record, 1ª Edição, 1987.

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