sábado, 2 de março de 2013

Como Clarice Lispector sempre escreveu o que está no lugar mais profundo de nós...  
deixo, aqui, um excerto da sua obra, "Água Viva", 1973...
"Para te escrever eu antes me perfumo toda.

[...]
 
Algo está sempre por acontecer.
O imprevisto improvisado e fatal me fascina.
Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo.
Você tornou-se um eu.
É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas.
É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?
Dificílimo contar: olhei para você fixamente por uns instantes.
Tais momentos são o meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.
 
Estou terrivelmente lúcida e parece que alcanço um
plano mais alto de humanidade. Ou da desumanidade - o it.
"
 
[...]

*Clarice Lispector*

Trecho extraído de "Água Viva", Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1ª Edição, 1973.

Nenhum comentário: