quinta-feira, 14 de março de 2013

"O Que São Estrelas

                                          A Jesuina Sampaio
           
Ai! Quantas vezes eu cismo,
À noite, olhando as estrelas.
Como quem sonda um abismo:
Meu Deus! O que serão elas?

E julgo que são pequenas
Almas gentis de crianças,
Voando as plagas serenas
Como um bando de esperanças.

Caçoulas brancas, sagradas,
Cheias de amor e de encantos,
Hóstias formosas, nevadas,
Eucaristia dos santos.

Sonhos de moça partidos,
Desilusões de poetas,
Raios de luz desprendidos
Das asas das borboletas.

Doces lírios transportados
Para uma encantada horta.
Sorrisos tristes, magoados,
De uns lábios de noiva morta.

Mimosos, lindos novelos,
Formados da luz serena,
Que aureolava os cabelos
Tão loiros de Magdalena.

Cada estrela, penso, encerra
Uma alma branca de rosa,
Que os anjos levam da terra
Para a Santa mais formosa.

Deve ser o Azul brilhante.
O manto azul de Maria,
E cada estrela um diamante
Que neste manto irradia.

Ou, talvez, penas dispersas
De um’asa nívea de arcanjo…
Pupilas em luz imersas
Dos olhos castos de um anjo…

Parecem círios divinos
No Azul imenso e sem véu…
Ninhos de ouro pequeninos
Dos beija-flores do Céu…

E enquanto cismo, respondem
Os astros, brancos arminhos:
Nós somos berços que escondem
As almas dos passarinhos.
"

*Auta de Souza*

Em “HORTO”, Natal-RN, Fundação José Augusto, 4ª edição, 1970.

2 comentários:

Brilho disse...

Destino

Pastora de nuvens, fui posta a serviço
por uma campina desamparada
que não principia e também não termina,
onde nunca é noite e nunca madrugada.

(Pastores da terra, vós tendes sossego,
que olhais para o sol e encontrais direção.
Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, por muito que espere,
não há quem me explique meu vário rebanho.
Perdida atrás dele na planície aérea,
não sei se o conduzo, não sei se o acompanho.

(Pastores da terra, que saltais abismos,
nunca entendereis a minha condição.
Pensais que há firmezas, pensais que há limites.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, cada luz colore
meu canto e meu gado de tintas diversas.
Por todos os lados o vento revolve
os velos instáveis das reses dispersas.

(Pastores da terra, de certeiros olhos,
como é tão serena a vossa ocupação!
Tendes sempre o indício da sombra que foge…
Eu, não.)

Pastora de nuvens não paro nem durmo
neste móvel prado,sem noite e sem dia.
Estrelas e luas que jorram, deslumbram
o gado inconstante que se me extravia.

(Pastores da terra, debaixo das folhas
que entornam frescura num plácido chão,
sabeis onde pousam ternuras e sonos.
Eu, não.)

Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto
do dono das reses, do dono do prado.
E às vezes parece que dizem meu nome,
que me andam seguindo, não sei por que lado.

(Pastores da terra, que vedes pessoas
sem serem apenas de imaginação,
podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!
Eu, não)

Pastora de nuvens, com a face deserta,
sigo atrás de formas com feitios falsos,
queimando vigílias na planície eterna
que gira debaixo dos meus pés descalços.

(Pastores da terra, tereis um salário,
e andará por bailes vosso coração.
Dormireis um dia como pedras suaves.
Eu, não.)

Cecília Meireles


Minha estima lhe abraça!

Elaine Bastos disse...

BIluminado,

Comentar sobre este poema... é perder tempo a procurar um adjetivo mais adequado que ESPETACULAR!...
Grata, grata, gratíssima, por compartilhá-lo aqui!...
Abr’eijos fraternais.