quinta-feira, 19 de junho de 2014

As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

*Sophia de Mello Breyner Andresen*
 Em “Dia do Mar”, Lisboa, Edições Ática, 3ª edição, 1974.
ENTRE LUZ & SOMBRAS

Coloco-me de costas para o sol nascente
a sombra me vai só na via da lembrança
e o meu amor vai só na alma indiferente
jacente na canção remota da esperança.

Lembro de sonhos do futuro no presente
de reviver amores que o esperar alcança
das rosas fugidias de um jardim ausente
a despeito dos amanhãs em abundância.

A noite é feita de uma luz remanescente
a beirada da aurora é que me recomeça
pela estrada de volta para o meu futuro.

Vaga-me a alma pelos restos do poente
chegar é só o sonho para quem começa
e começar é conseguir andar no escuro.


*Afonso Estebanez*

Copiei daqui: http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/1366181
Soneto Melancólico

Quando o teu sol de luar de ti se esquece,
e seus raios, ausentes, se consomem
sobre o pesar, a nódoa, o abismo e a prece
da minha obscura circunstância de homem;

ou quando a sombra do teu dedo cobre
a minha estrada e a minha sede antigas,
e o teu rumor lava o meu mundo pobre,
com arco-íris, ovelhas e cantigas;

ou, no ar, a tua forma transeunte
relâmpagos escreve, e frutos, e ondas,
não sei o que suplique, nem pergunte,

e bebo o escuro do silêncio aberto,
por temer, ó manhã, que me respondas
tua escada de fogo e o meu deserto
.”

*Abgar Renault*

Em “OBRA POÉTICA ABGAR RENAULT”, Rio de Janeiro, Editora Record, 1ª Edição, 1990.