domingo, 28 de fevereiro de 2016

Saudade

Via você na janela, na distância,
na solidão na penumbra do amanhecer.

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.

Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento.

Que saudade...


*Desconheço a autoria*
Alecrim

É verde, é todo verde como o sonho
Que faz verde a minha alma.
Parece que Jesus entrou, lá no Alecrim,
Levando no ombro a palma
Num domingo de ramos
E verde ele prospera
Como se fosse o recanto
Da fada da Primavera...
E cheira! E cheira tanto!
Mais cheiroso não há, nem mais ameno,
Recende a malva-rosa, a macassar,
A cravo branco aberto no sereno,
Na panela de barro,
Na beirada da casa.
Cheira mesmo a alecrim bento,
A alecrim da Paixão,
Que enfeita na quaresma o Bom Jesus dos Passos
No andor da procissão.
É o bairro do samba, da folia,
Das adivinhações e da magia,
Das promessas de fitas,
Dos fandangos, dos leilões!
E das velhas latadas de maracujá,
Das modinhas antigas,
Cantadas nos terreiros lá de cima,
Ao som dos violões de acorde certo!
Das saudosas latinhas de Itajubá,
Das serenatas de Deolindo Lima,
Das morenas formosas de Gotardo Neto;
Do par de namorados,
Conversando encostados,
Nas cercas de melão cheias de flor,
Entre beijos furtados
E promessas de amor.


*Palmira dos Guimarães Wanderley*
Em “PANORAMA DA POESIA NORTE-RIO-GRANDENSE” (Rômulo Chaves Wanderley), 
Rio de Janeiro, Edições do Val Ltda., 1ª Edição, 1965.
Cheiro de chuva

Deus, que saudosa manhã,
Em que ouço a melodia
Do canto da saparia
E o grito da jaçanã!
Ai! Quem conhece esse encanto
No meu sertão grato e santo
Esquecer não poderá.
O que há de bom nesta vida,
Pode passar de corrida,
A saudade deixará.

Vendo d’água a terra cheia,
Eu sinto a doce lembrança
De meu tempo de criança,
Dos meus açudes de areia;
A corrente do regato,
O cheiro de flor do mato
Das caatingas do sertão,
Tudo são gratas memórias
Que vêm cavar mil histórias
Plantadas no coração.

Nada mais belo e atraente
Do que, no rio revolto,
Pelejar de braço solto
De encontro à bruta corrente.
Lembro-me bem, no Espinharas,
Em manhãs boas e claras,
Após noite de trovão
A gente afogava as mágoas,
Cortando o peito nas águas
Como simples diversão.

Depois de ver-se na terra
Fartura d’água rolando,
O relâmpago faiscando,
O trovão quebrando a serra,
O gemer das cachoeiras,
Nas madrugadas fagueiras
Dá testemunho aos ateus
De que toda essa grandeza
É a própria Natureza
Cantando a glória de Deus.
” 

*José Lucas de Barros*
Em “PANORAMA DA POESIA NORTE-RIO-GRANDENSE” (Rômulo Chaves Wanderley), 

Rio de Janeiro, Edições do Val Ltda., 1ª Edição, 1965.
Meus cantos

Aos pés de Deus, humilde, por momentos
Fiz um canto de mística oração.
Juntando a voz das águas e dos ventos
Fiz desse coro um hino, uma canção.

Divulgando com ardor meus pensamentos
Cantei das aves doce entonação;
Do mar ouvindo lúgubres lamentos
Cantei das ondas a acre solidão.

E cantei mais: o hálito das flores...
Da noite escura tétricos negrores
E a transparente alvura do luar.

Mas quando quis cantar meus desencantos
Ao em vez de cantar eu chorei tanto
Que mais nada jamais pude cantar.


*Bernardina Vilar*
Em “Saudade da Vila”, São Paulo, Editora Moderna, 14ª Edição, 1994.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Jeito de escrever
 
Não sei que diga.
E a quem o dizer?
Não sei que pense.
Nada jamais soube.
 
Nem de mim, nem dos outros.
Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
Seja do que for ou do que fosse.
Não sei que diga, não sei que pense.
 
Oiço os ralos queixosos, arrastados.
Ralos serão?
Horas da noite.
Noite começada ou adiantada, noite.
Como é bonito escrever!
 
Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto − o jeito.
Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
No tempo vago...
Ele vago e eu sem amparo.
Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das
horas. Mortas!
 
E por mais não ter que relatar me cerro.
Expressão antiga, epistolar: me cerro.
Tão grato é o velho, inopinado e novo.
Me cerro!
 
Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,
solta a outra, de pena expectante.
Uma que agarra, a outra que espera...
Ó ilusão!
E tudo acabou, acaba.
Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?
 
Silêncio.
Nem pássaros já, noite morta.
Me cerro.
Ó minha derradeira composição! Do não, do nem, do nada, da ausência e
solidão.
 
Da indiferença.
Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
Alonga-te.
A ribeira acordou.


*Irene Lisboa*
Em “Solidão – Notas do Punho de uma Mulher”, Lisboa, Portugália Editora, 2ª Edição, 1965.
A valsa

Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co'as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
− Não negues,
Não mintas...
− Eu vi!...

Valsavas:
− Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P'ra outro
Não eu!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
− Não negues,
Não mintas...
− Eu vi!...

Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem ?!

Quem dera
Que sintas
As dores
De arnores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
− Não negues,
Não mintas,..
− Eu vi!...

Calado,
Sózinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!

Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!

Quem dera
Que sintas!...
− Não negues
Não mintas...
− Eu vi!

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
Sem vida.
No chão!

Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
− Não negues,
Não mintas...
Eu vi!


*Casimiro de Abreu*

Em “Poesias Completas de Casimiro de Abreu”, Rio de Janeiro, Editora Ediouro, 11ª Edição, 1973.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

NOCTURNOS

I

Anoitece...
Venho soffrer contigo a hora dolente que erra,
Sob a lâmpada amiga, entre um vaso com rosas,
Um festão de jasmins, e a penumbra que desce...
Hora em que há mais distancia e mágua pela terra;
Quando, sobre os chorões e as aguas silenciosas,
Redonda, a lua calma e sutil, apparece...

O rumor de uma voz sóbe no espaço, ecoando,
Mais um dia se foi, menos uma illusão!
E assim corre, igualmente, a ampulheta da vida.
Senhor! depois de mim, como folhas em bando,
Num crepúsculo triste, outros homens virão
Para recomeçar a rota interrompida,
E a amargura sem fim de um mesmo sonho vão...

Nos dormentes jardins bolem azas incautas,
Sobre os campos a bruma ondeia, devagar.
Estremecem no céo estrellas somnolentas,
E os rebanhos, que vão na neblina lunar,
Agitam mollemente, ao longe, as curvas lentas
Das estradas de esmalte, ao rudo som das flautas.

Anoitece...
Tremúla ainda, no poente, a luz de alguns clarões,
E, enquanto sobre o meu teu olhar adormece,
Entre o perfil sombrio e vago dos chorões,
Redonda, a lua calma e distante, apparece...


*Ronald de Carvalho*
Em “Poemas e Sonetos”, Rio de Janeiro, Editôres Leite Ribeiro & Maurillo, 1ª Edição, 1919.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sombras que voltam

Dentro do nosso olhar, ás vezes, nasce,
Como na agua de um lago transparente
Uma indistincta floração fugace,
Todo o passado, em ronda, suavemente.

E o juramento que se fez, e a face
Que se beijou, chorando, docemente,
E volta, pállida, (e antes não voltasse!)
Tudo se ergue na sombra, de repente.

E são verões, outonos, primaveras,
Mares coalhados de astros e galeras,
Tardes de prata, auroras de cristal;

E cidades que, longe, vão surgindo,
A'beira azul de um golpho calmo e lindo,
Entre grinaldas de âmbar e coral!


*Ronald de Carvalho*

Em “Poemas e Sonetos”, Rio de Janeiro, Editôres Leite Ribeiro & Maurillo, 1ª Edição, 1919.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Elegias

I

Teu vulto leve, ao fundo do passado,
Volve-me, ás vezes, um olhar maguado
Que lembra o luar, por entre névoas finas.
Ainda tenho no espelho das retinas
O parque familiar, e os velhos bancos
Onde a vida juntou em dias vãos,
A’s tuas lindas mãos ás minhas mãos.

Onde estás, minha doce companheira?
Como a rosa, que tomba da roseira,
A hora tomba no espaço, sem rumor...
Longe murmura a trompa de um pastor,
Pela tarde que morre, lentamente.
E o poente é como aquelle mesmo poente
Que a terra toda encheu de um sonho triste
Quando sombra, entre sombras, me fugiste!

Ficaste numa curva do passado,
Como dóe recordar o tempo andado
Nas manhãs de illusão, nas noites calmas!
Uma lagrima a abrir dentro das almas
Como um pallido sol num céo de outono,
Um gesto, um longo gesto de abandono,
Um desconsolo, um pouco de saudade,
E nisso está toda a felicidade...

Sobre os campos, em seu vestido louro,
A primavera ri nos botões de ouro;
Entre as ondas vermelhas das espigas
Voltam cantando, em bando, raparigas,
E, dentre a púrpura que envolve o ambiente,
Vai surgindo aos meus olhos lentamente,
Como um rôlo de incenso, no ar lavado,
Teu vulto leve ao fundo do passado...
”          

*Ronald de Carvalho*
Em “Poemas e Sonetos”, Rio de Janeiro, Editôres Leite Ribeiro & Maurillo, 1ª Edição, 1919.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Zara

                                        A Joaquim Araújo

Feliz de quem passou, por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa.
E leve como a sombra sobre a água.

Era-te a vida um sonho, indefinido
E ténue, mas suave e transparente...
Acordaste... sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.


*Antero de Quental*
Em “Poesia Completa 1842-1891”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1ª Edição, 2001.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Nox

Noite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...

Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...

Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,

E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!

*Antero de Quental*
Em “Sonetos, (antologia), org. José Lino Grunewald”, Rio de Janeiro, 
Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 1991.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

De ‘Poemas Inconjuntos

Vive

Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


*Alberto Caeiro* (Heterônimo de Fernando Pessoa)
Em,
O Eu profundo e os outros Eus, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 12ª Edição, 1980.
De ‘Poemas Inconjuntos

Dizes-me

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes,
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?

Sim: há uma diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas;
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma  pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter côr?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não meu perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.


*Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)*
Em "O Eu profundo e os outros Eus", Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 12ª Edição, 1980.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Turbilhão

A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor

Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrots e Arlequins

Vê colombinas azuis a sorrir laiá
Vê serpentinas na luz reluzir
Vê os confetes do pranto no olhar
Desses palhaços dançando no ar

Vê multidão colorida a gritar lará
Vê turbilhão dessa vida passar
Vê os delírios dos gritos de amor
Nessa orgia de som e de dor

La lalaia lalaia lalaia


Interpretação e Composição de *Moacyr Franco*, Carnaval de 1978.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Carnaval

E foi-se o Carnaval. E só ficou,
de tudo, uma lembrança dolorida
que resta desse amor que se acabou
numa alegria que redime a vida.

Da loucura da febre que passou,
a alma se sente só e consumida;
na solidão que o sonho lhe deixou
a saudade ainda vive, malsofrida.

E, tristemente, o coração recorda,
na angústia de uma louca nostalgia,
esse sonho fugaz que ele sonhou.

Carnaval de um amor que, na alma, acorda
a esperança de uma última alegria,
entre as cinzas de tudo que passou.


*Afonso Louzada*
Em “Noturnos”, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1ª Edição, 1947.
Nós, os foliões

Nosso amor passou eu sei
No principio eu não quis acreditar
Chorei
Mas, depois eu tive que me conformar
Me conformei

A realidade foi maior
Aprendi nessa dor
A mágoa não compensa
E o orgulho é mais cruel
Que toda a indiferença

Pode acreditar, mulher
Nosso amor foi lindo
Como um carnaval qualquer
Que se acaba
E faz um novo dia a dia acontecer
Tão difícil assim como viver

Até um dia em que vem
Reacender alegrias e salões
Nós, os foliões
Nossas alegorias
Tão esperado e se foi
Tão colorido e lá vai
Perdendo a cor
O carnaval do nosso amor.


Letra e música de *Sidney Miller*, 1976.

Extraí daqui:
http://estrelabinaria.com/tag/sidney-miller/