domingo, 21 de fevereiro de 2016

NOCTURNOS

I

Anoitece...
Venho soffrer contigo a hora dolente que erra,
Sob a lâmpada amiga, entre um vaso com rosas,
Um festão de jasmins, e a penumbra que desce...
Hora em que há mais distancia e mágua pela terra;
Quando, sobre os chorões e as aguas silenciosas,
Redonda, a lua calma e sutil, apparece...

O rumor de uma voz sóbe no espaço, ecoando,
Mais um dia se foi, menos uma illusão!
E assim corre, igualmente, a ampulheta da vida.
Senhor! depois de mim, como folhas em bando,
Num crepúsculo triste, outros homens virão
Para recomeçar a rota interrompida,
E a amargura sem fim de um mesmo sonho vão...

Nos dormentes jardins bolem azas incautas,
Sobre os campos a bruma ondeia, devagar.
Estremecem no céo estrellas somnolentas,
E os rebanhos, que vão na neblina lunar,
Agitam mollemente, ao longe, as curvas lentas
Das estradas de esmalte, ao rudo som das flautas.

Anoitece...
Tremúla ainda, no poente, a luz de alguns clarões,
E, enquanto sobre o meu teu olhar adormece,
Entre o perfil sombrio e vago dos chorões,
Redonda, a lua calma e distante, apparece...


*Ronald de Carvalho*
Em “Poemas e Sonetos”, Rio de Janeiro, Editôres Leite Ribeiro & Maurillo, 1ª Edição, 1919.

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