quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Um ano termina, outro se anuncia!...

Que no decorrer de 2016 possamos nos deixar envolver, efetiva e 
verdadeiramente, em nossa própria renovação de sentimentos.
Que o respeito seja a moeda essencial nas relações, a ética e a moral 
sejam práticas rotineiras em nome do bem coletivo. 
Que o mundo resgate o dom de se reinventar em suas verdadeiras evoluções, 
sem maquiar as mazelas que nos fazem reféns de sonhos vazios.
Que o ANO que se inicia nos traga tudo quanto desejamos: saúde, partilha, 
fraternidade, solidariedade, amizade, amor, harmonia, realizações, esperança...
Paz na Terra, SENHOR! 
Feliz ANO NOVO todos os dias!
Tintim!
Reinauguração

Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre a desmitificação e a expectativa,
tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
e como bons meninos reclamamos
a graça dos presentes coloridos.
Nossa idade − velho ou moço − pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos
e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza, a
exata beleza que vem dos gestos espontâneos
e do profundo instinto de subsistir
enquanto as coisas em redor se derretem e somem
como nuvens errantes no universo estável.
Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos
a um sol diferente que nos acorda para os
descobrimentos.
Esta é a magia do tempo.
Esta é a colheita particular
que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
no acreditar na vida e na doação de vivê-la
em perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.
Somos uma fraternidade, um território, um país
que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro
e desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.


*Carlos Drummond de Andrade*
Em “Nova reunião − 19 livros de poesia”, Rio de Janeiro, Editora José Olympio,
co-edição com o INL-MEC, 2ª Edição, 1985.
O tempo

Sou o Tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da Vida!

A correr, de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm...
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.

Ninguém pode evitar os meus danos...
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos
Formo um século, e passo adiante.

Trabalhai, porque a vida é pequena,
E não há para o Tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
”  

*Olavo Bilac*
Em “Poesias Infantis”, São Paulo, Editora Empório do Livro, 1ª Edição, 2009.
Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


*Carlos Drummond de Andrade*
Em “Discurso de Primavera e algumas sombras”, Rio de Janeiro, 
Editora José Olympio, 3ª Edição, 1979.
Vai, ano velho

Vai, ano velho, vai de vez,
vai com tuas dívidas
e dúvidas, vai, dobra a esquina da sorte,
e no trinta e um, à meia-noite, esgota o copo
e a culpa do que nem me lembro
e me cravou entre janeiro e dezembro.

Vai, leva tudo: destroços,
ossos, fotos de presidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.
Vade retrum, para trás,
leva para a escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
Não quero te ver mais,
só daqui a anos, nos anais,
nas fotos do nunca-mais.

Vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrigas, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicores, rebecas,
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e, por um instante, estanca
o verso real, perverso,
e sacia em nós a fome
de utopia.

Vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra semente
ou pérola na casca da ostra
como se outra semente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo,
o Sol e a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

Adeus, tristeza:
a vida é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora é recomeçar.
A utopia é urgente.
Entre flores de urânio
é permitido sonhar.


*Affonso Romano de Sant'Anna*

Em “Poesia Reunida - 1965/1999, Volume 2”, Porto Alegre, Editora L&PM Pocket, 1ª Edição, 2007.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Hoje, 30 de dezembro de 2015, o Blogue “In Extenso” chega ao seu 
3º aniversário (36 meses, 1.087 dias, 26.256 horas).
Tem sido um percurso aprazível, por isso encontro-me a festejá-lo... 
Eu não poderia deixar de fazer alvo desta alegria, os visitantes de um modo geral, 
aos quais se deve a considerável soma de 264.084 visualizações!
Viva!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

É Natal!...
Que nossas mãos possam ser portadoras de acolhimento, de afagos, de carinho... 
Que delas escorram os melhores sentimentos e redobrem 
os gestos de ternura e generosidade... 
Desejo a todos que visitam o
In Extenso, que uma estrela lhes guie 
ao encontro de um tempo de Paz!
Com as bênçãos do Deus-Menino ficam os meus votos de Boas Festas,
na esperança do milagre, na participação da poesia!...
 

Soli Deo gloria!
Canto de Natal

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
                     De Jesus menino.
”                      

*Manuel Bandeira*
Em “Antologia Poética”, Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 10ª Edição, 1978.
Natal de ontem e de hoje
                                    
Natal!  Vocábulo sonoro,
Com ressonâncias de cristal!
Amo o Natal; amo e adoro
O doce nome de ‘Natal’.

Ouvi-lo é ter no ouvido, ecoando
A voz dos sinos, no arraial,
Alegremente repicando
A excelsitude do Natal!

Missa do galo. Espouca e brilha
O foguetório, a salva real…
Fulge o painel. Que maravilha!
Jesus nasceu: − Natal!  Natal!

Ding-din!  Ding-don! − repicam os sinos!
Vozes elevam-se em coral,
Desafinando ingênuos hinos
Em honra a Cristo e ao seu Natal.

Dança, presépios, pastorinhas
No pastoril de João de tal −
E, entre vizinhos e vizinhas,
Os namoricos de Natal.

Castanhas, nozes, rabanadas,
Do velho tom tradicional,
De fino açúcar polvilhadas
Tendo a doçura do Natal.

E da família o quadro lindo
Da vasta mesa patriarcal
E a avó velhinha, repartindo
O imenso bolo de Natal.

Mudou o Natal. Que há que não mude
Neste vaivém universal?
Foi-se a simpleza ingênua e rude
Das idas festas de Natal.

Hoje, entre as luzes da cidade
Cosmopolita e colossal
A luz da Light a noite invade
E nem se vê vir o Natal.

Há o reveillon, francês em nome,
Yankee no fundo comercial;
Faga-se quanto se consome
A preços próprios do Natal.

Em vez da viola e da sanfona,
Em tom menor, sentimental,
Uma ‘ortofônica’ ortofona
Um feroz fox infernal.

Há nos hotéis e clubs chics
Festas de um tom convencional
Sem foguetório e sem repiques −
Que nem são festas de Natal!

Corre champagne, em vez do verde,
Do carrascão de Portugal.
(Sem o verdasco o que há de ser de
Ti, ó consoada de Natal).

E até há gaitas, serpentinas,
Como se fora um carnaval!
Vocês, rapazes e meninas,
Não têm idéia do Natal!

Chego a pensar que o próprio Cristo,
O de Belém, o do curral,
Lá do alto, olhando para isto,
Não reconhece o seu Natal.

E, então, fechando a azul esfera,
Se esconde além do último ‘astral’
E, por castigo, delibera
Não nascer mais pelo Natal.


*Bastos Tigre*
Em “Antologia poética de Bastos Tigre” (2 Volumes), 
Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves/INL, 1982.
Natal

                                            Às moças da Serra

É meia noite... O sino alvissareiro,
Lá da igrejinha branca pendurado,
Como n'um sonho místico e fagueiro,
Vem relembrar o tempo do passado.

Ó velho sino, ó bronze abençoado,
Na alegria e na mágoa companheiro!
Tu me recordas o sorrir primeiro
De menino Jesus imaculado.

E enquanto escuto a tua voz dolente,
Meu ser que geme dolorosamente
Da desventura, aos gélidos açoites...

Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
Sino que lembras uma noite santa,
Noite bendita mais que as outras noites!


*Auta de Souza*
Em “HORTO”, Natal/RN, Fundação José Augusto, 4ª edição, 1970.
Natal

Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...

Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na Cruz.

Sobre a palha, risonho e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vêde o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.

Não nasceu entre pompas reluzentes;
Na humildade e na paz desse lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes
Foi para os pobres seu primeiro olhar.

No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presépio os guia,
Vem cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.

Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sôbre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o mal!

Natal! Natal! Em tôda a natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve, Deus da humildade e da pobreza,
Nascido numa pobre estrebaria.
”                

*Olavo Bilac*
Em “Vida e poesia de OLAVO BILAC”, São Paulo, Editora Novo Século, 5ª Edição, 2007.
Cantiga dos Pastores

À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.

Achamos este Menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?

Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.

Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
de nossa pobre riqueza:

A nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.

Os anjos cantavam hinos
cheios de vivas e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:

Que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,
em que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?

Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!


*Adélia Prado*
Em “Poesia reunida”, São Paulo, Editora Siciliano, 10ª Edição, 2001.