“Natal de ontem e de hoje
Natal! Vocábulo sonoro,
Com ressonâncias de cristal!
Amo o Natal; amo e adoro
O doce nome de ‘Natal’.
Ouvi-lo é ter no ouvido, ecoando
A voz dos sinos, no arraial,
Alegremente repicando
A excelsitude do Natal!
Missa do galo. Espouca e brilha
O foguetório, a salva real…
Fulge o painel. Que maravilha!
Jesus nasceu: − Natal! Natal!
Ding-din! Ding-don! − repicam os sinos!
Vozes elevam-se em coral,
Desafinando ingênuos hinos
Em honra a Cristo e ao seu Natal.
Dança, presépios, pastorinhas
No pastoril de João de tal −
E, entre vizinhos e vizinhas,
Os namoricos de Natal.
Castanhas, nozes, rabanadas,
Do velho tom tradicional,
De fino açúcar polvilhadas
Tendo a doçura do Natal.
E da família o quadro lindo
Da vasta mesa patriarcal
E a avó velhinha, repartindo
O imenso bolo de Natal.
Mudou o Natal. Que há que não mude
Neste vaivém universal?
Foi-se a simpleza ingênua e rude
Das idas festas de Natal.
Hoje, entre as luzes da cidade
Cosmopolita e colossal
A luz da Light a noite invade
E nem se vê vir o Natal.
Há o reveillon, francês em nome,
Yankee no fundo comercial;
Faga-se quanto se consome
A preços próprios do Natal.
Em vez da viola e da sanfona,
Em tom menor, sentimental,
Uma ‘ortofônica’ ortofona
Um feroz fox infernal.
Há nos hotéis e clubs chics
Festas de um tom convencional
Sem foguetório e sem repiques −
Que nem são festas de Natal!
Corre champagne, em vez do verde,
Do carrascão de Portugal.
(Sem o verdasco o que há de ser de
Ti, ó consoada de Natal).
E até há gaitas, serpentinas,
Como se fora um carnaval!
Vocês, rapazes e meninas,
Não têm idéia do Natal!
Chego a pensar que o próprio Cristo,
O de Belém, o do curral,
Lá do alto, olhando para isto,
Não reconhece o seu Natal.
E, então, fechando a azul esfera,
Se esconde além do último ‘astral’
E, por castigo, delibera
Não nascer mais pelo Natal.”
*Bastos Tigre*
Em “Antologia poética de Bastos Tigre” (2 Volumes),
Natal! Vocábulo sonoro,
Com ressonâncias de cristal!
Amo o Natal; amo e adoro
O doce nome de ‘Natal’.
Ouvi-lo é ter no ouvido, ecoando
A voz dos sinos, no arraial,
Alegremente repicando
A excelsitude do Natal!
Missa do galo. Espouca e brilha
O foguetório, a salva real…
Fulge o painel. Que maravilha!
Jesus nasceu: − Natal! Natal!
Ding-din! Ding-don! − repicam os sinos!
Vozes elevam-se em coral,
Desafinando ingênuos hinos
Em honra a Cristo e ao seu Natal.
Dança, presépios, pastorinhas
No pastoril de João de tal −
E, entre vizinhos e vizinhas,
Os namoricos de Natal.
Castanhas, nozes, rabanadas,
Do velho tom tradicional,
De fino açúcar polvilhadas
Tendo a doçura do Natal.
E da família o quadro lindo
Da vasta mesa patriarcal
E a avó velhinha, repartindo
O imenso bolo de Natal.
Mudou o Natal. Que há que não mude
Neste vaivém universal?
Foi-se a simpleza ingênua e rude
Das idas festas de Natal.
Hoje, entre as luzes da cidade
Cosmopolita e colossal
A luz da Light a noite invade
E nem se vê vir o Natal.
Há o reveillon, francês em nome,
Yankee no fundo comercial;
Faga-se quanto se consome
A preços próprios do Natal.
Em vez da viola e da sanfona,
Em tom menor, sentimental,
Uma ‘ortofônica’ ortofona
Um feroz fox infernal.
Há nos hotéis e clubs chics
Festas de um tom convencional
Sem foguetório e sem repiques −
Que nem são festas de Natal!
Corre champagne, em vez do verde,
Do carrascão de Portugal.
(Sem o verdasco o que há de ser de
Ti, ó consoada de Natal).
E até há gaitas, serpentinas,
Como se fora um carnaval!
Vocês, rapazes e meninas,
Não têm idéia do Natal!
Chego a pensar que o próprio Cristo,
O de Belém, o do curral,
Lá do alto, olhando para isto,
Não reconhece o seu Natal.
E, então, fechando a azul esfera,
Se esconde além do último ‘astral’
E, por castigo, delibera
Não nascer mais pelo Natal.”
*Bastos Tigre*
Em “Antologia poética de Bastos Tigre” (2 Volumes),
Rio de Janeiro, Editora Francisco Alves/INL, 1982.
Nenhum comentário:
Postar um comentário