domingo, 6 de dezembro de 2015

Voz do outono

Ouve tu, meu cansado coração;
O que te diz a voz da Natureza:
– ‘Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste,)
Com ódio e raiva e dor – que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!’


*Antero de Quental*
Em “Sonetos (antologia)”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 1991.

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