domingo, 12 de abril de 2015

EU

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos escrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me − pobre louca! −
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!


*Florbela Espanca*
Em “Obras Completas de Florbela Espanca”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 4ª Edição, 1992.

Nenhum comentário: