sábado, 25 de maio de 2013

Confissões Partidas

Quisera eu ser dona, mandante da verdade inteira e nua,
Que nua, consta a sabedoria popular, ela está no fundo de um poço fundo,
E sua irmã mentira foi a que ficou em cima beradiando.

Quem dera a mim esse poder, desfaçatez, coragem de dizer verdades...
Quem as tem? Só o louco varrido que perdeu o controle das conveniências.
Conveniências... palavras assim de convênio, de todos combinados,
Força poderosa, recriando a coragem, encabrestando a vontade.
Conveniência... irmã gêmea do preconceito, encangados os dois,
Puxando a carroça pesada de meias verdades.
Confissões pela metade...
Quem sou eu para as fazer completas?

Reservas profundas, meus reservatórios secretos, complexos,
Fechados, ermos, compromissos íntimos e preconceitos vigentes, arraigados.

Algemas mentais, e tolhida, prisioneira, incapaz de despedaçar a rede.
Onde se debate o escamado da verdade...
Qual aquele que em juízo são, destemeroso dos medos
Para dizer mais do que as meias dissimuladas, esparsas?

A gente tem medo dos vivos e medo dos mortos.
Medo da gente mesmo.
Nossas covardias retardadas e presentes.
Assim foi, assim será.


*Cora Coralina*

Em “Melhores Poemas, Cora Coralina”, São Paulo, Editora Global, 1ª Edição, 2004.

Nenhum comentário: