terça-feira, 14 de maio de 2013

"Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente.
"

*Sophia de Mello Breyner Andresen*

Em “Obra Poética de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)”, Lisboa, 
Editorial Caminho, 2ª edição, 2004.

2 comentários:

Brilho disse...

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Cantiguinha

Brota esta lágrima e cai.
Vem de mim, mas não é minha.
Percebe-se que caminha,
sem que se saiba aonde vai.

Parece angústia espremida
de meu coração
- pelos meus olhos fugida
e quebrada em minha mão.

Mas é rio, mais profundo,
sem nascimento e sem fim,
que, atravessando este mundo,
passou por dentro de mim.

Cecília Meireles
in "As palavras Voam."

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O que me faz Viver

O que me faz viver
E esta pequena rua
Que existe dentro de mim
Este pequeno espaço
Que separa o medo da coragem
Esta certeza de que temer a dor
Já é viver com todas as dores do mundo.

O que me faz viver
É esta coragem de não desistir
Este desejo de não ser comum
Esta mania de achar vida
Em todas as coisas
Em todos os seres.

Tenham certeza que não me firo
Um milímetro a menos
Do que qualquer outra pessoa.

Saibam que minha vida dói.

Mas jamais esqueçam
De que as dores que as pessoas
E as coisas podem causar
Não pode nem de longe
Dar a sensação plena
Que as realizações mais profundas
Que podemos ter.

Cosmo Palasio de Moraes Jr.


Fraterno abraço!

Elaine Bastos disse...

BRAVO, bravíssimo!
Grata pela partilha, BIluminado!
Fraternurentos abraços meus.