quinta-feira, 9 de maio de 2013

"Felicidade

A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece,
Tão lentamente no céu de prece,

Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro de extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim cumprida, morre, descansa...

E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda a minh'alma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!

Oh, ter vontade de se matar...
Bem sei é cousa que não se diz.
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!

Vem, noite mansa...
"

*Manuel Bandeira*

Em "Poesia Completa e Prosa", São Paulo, Editora Nova Fronteira, Volume Único, 5ª Edição, 2009.

Um comentário:

Brilho disse...

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Recordação.

E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.

Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.

E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.

Rainer Maria Rilke
In “O Livro das Imagens”

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Ressureição

Bendito o coração que não esquece
a inédita emoção do amor primeiro,
e a quem ela, no instante derradeiro,
numa benção, de súbito, aparece!

Abençoada seja, em toda prece,
a árvore que, na asperidão do outeiro,
na áurea colheita do pomar inteiro,
recorda o fruto da primeira messe!

Bendita seja, e, para o amor, sagrada,
a alma que acorda do primeiro sono
com os olhos postos na ilusão passada.

E bendita, afinal, a alma sincera
que abre na solidão do meu Outono
meu primeiro botão de Primavera...

Humberto de Campos


Fraterno abraço, estimada amiga!

PS: Belos poemas.