quinta-feira, 2 de maio de 2013

"Serenata

Caiu do céu uma estrela,
Ai, que eu bem a vi tombar!
Era a noite pura e bela,
Murmurava ao longe o mar.

Era tudo êxtase e calma,
Perfume, encanto, fulgor...
Só no fundo da minha alma
Que desconforto e que dor!

Dorme e sonha, minha bela,
Embalada ao som do mar...
Caiu do céu uma estrela.
Triste do que a viu tombar!

Era uma estrela caída,
Uma entre tantas, não mais!
Era uma ilusão perdida,
Era um ai entre mil ais!

E hás-de viver torturado,
Louco, incerto coração.
Só por um astro apagado,
Por uma morta ilusão?

Dorme e sonha, minha bela.
Como chora ao longe o mar!
Caiu do céu uma estrela.
Ai de mim que a vi tombar!
"

*Antero de Quental*

Em “Poesia Completa” (1842-1891), Lisboa/Portugal, Editora Publicações Dom Quixote, 2001.

2 comentários:

Brilho disse...

Compartilho...

Olhando o Mar, Sonho Sem Ter de Quê.

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, estar em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

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O Coração

O coração é a sagrada pira
Onde o mistério do sentir flameja.
A vida da emoção ele a deseja
como a harmonia as cordas de uma lira.

Um anjo meigo e cândido suspira
No coração e o purifica e beija...
E o que ele, o coração, aspira, almeja
É o sonho que de lágrimas delira.

É sempre sonho e também é piedade,
Doçura, compaixão e suavidade
E graça e bem, misericórdia pura.

Uma harmonia que dos anjos desce,
Que como estrela e flor e som floresce
Maravilhando toda criatura!

Cruz e Souza


Fraterno abraço, amiga!

Elaine Bastos disse...

BIluminado,

Já nem sei o que dizer em relação
aos poemas assim... compartilhados...
Faltam as palavras.
Dizem sempre tanto!...
Abraços fraternurentos.