sexta-feira, 17 de maio de 2013

"A Casa do Tempo Perdido

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.
"

*Carlos Drummond de Andrade*

Em “Poesia Completa”, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, Volume Único, 3ª edição, 2002.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bravíssimo!

Essa casa tem raízes profundas, as janelas da memória tem molduras onde a própria vida do morador acena para um tempo que já passou...