“Luminescência
[...]
Ele reclinou-se na cadeira um pouco cansado e disse:
– Você é das que precisam de garantia. Quer saber como eu sou para me aceitar?
Vou me fazer conhecer melhor por você, disse com ironia.
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Sou paciente mas profundamente colérico, como a maioria dos pacientes.
As pessoas nunca me irritam mesmo, certamente porque eu as perdôo de antemão.
Gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo comigo.
Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade, mas como pode ser verdade,
se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela tivessem entrado?”
[...]
*Clarice Lispector*
Em “CLARICE LISPECTOR UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES”,
Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1ª Edição, 1998.
domingo, 5 de setembro de 2021
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