“DIVINA COMÉDIA
Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: – ‘Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,
Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis
N’um turbilhão cruel e delirante...
Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
‘Porque é que para a dor nos evocastes?’
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: – ‘Homens! por que é que nos criastes?’.”
*Antero de Quental*
Em “Sonetos (antologia), org. José Lino Grunewald”, Rio de Janeiro,
Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 1991.
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
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