domingo, 12 de setembro de 2021

Cantoria

I

Meti o peito em Goiás e canto como ninguém.
Canto as pedras, canto as águas, as lavadeiras, também.
Cantei um velho quintal com murada de pedra.
Cantei um portão alto com escada caída.
Cantei a casinha velha de velha pobrezinha.
Cantei colcha furada estendida no lajedo; muito sentida,
pedi remendos pra ela.
Cantei mulher da vida conformando a vida dela.

II

Cantei ouro enterrado querendo desenterrá.
Cantei cidade largada.
Cantei burro de cangalha com lenha despejada.
Cantei vacas pastando no largo tombado.
Agora vai se acabando Esta minha versejada.
Boto escoras nos serados por aqui vou ficando.


*Cora Coralina*
Em “MEU LIVRO DE CORDEL”, São Paulo, Global Editora, 11ª Edição, 2009.

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