domingo, 12 de setembro de 2021

[...]

Antes do aparecimento do espelho a pessoa não conhecia o próprio
rosto senão refletido nas águas de um lago. Depois de um certo tempo
cada um é responsável pela cara que tem. Vou olhar agora a minha.
É um rosto nu. E quando penso que inexiste um igual ao meu no mundo,
fico de susto alegre.
Nem nunca haverá. Nunca é o impossível. Gosto de nunca.
Também gosto de sempre. Que há entre nunca e sempre que os liga
tão indiretamente e intimamente?

No fundo de tudo há a aleluia. Este instante é. Você que me lê é.


[...]

*Clarice Lispector*
Em “Água Viva”, Editora Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 1ª Edição, 1998.

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