domingo, 17 de outubro de 2021

 VIII

ESTE INFERNO DE AMAR

Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,

Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…


*Almeida Garrett*
Em “Obras de Almeida Garrett (2 volumes), Edição Única”,
Porto/Portugal, Editora Lello & Irmão Editores, 1966.

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