“Soneto nº 16
Aqui, sobre estas águas cor de azeite,
Cismo em meu Lar, na paz que lá havia:
Carlota, à noite, ia ver se eu dormia
E vinha, de manhã, trazer-me o leite.
Aqui, não tenho um único deleite!
Talvez... baixando, em breve, à Água fria,
Sem um beijo, sem uma Ave-Maria,
Sem uma flor, sem o menor enfeite!
Ah pudesse eu voltar à minha infância!
Lar adorado, em fumos, a distância,
Ao pé de minha irmã, vendo-a bordar:
Minha velha Aia! conta-me essa história
Que principiava, tenho-a na memória,
‘Era uma vez...’
Ah deixem-me chorar!”
*António Nobre*
Em “Só”, Lisboa, Editora Publicações Dom Quixote, 1ª Edição, 2000.
domingo, 3 de outubro de 2021
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