sábado, 23 de outubro de 2021

O CREDO DE UM POETA

[...]

Pensava saber tudo sobre palavras, tudo sobre linguagem (de pequeno,
a pessoa acha que sabe muitas coisas), mas
aquelas palavras foram uma revelação para mim. Claro, eu não as entendia.
Como poderia entender aqueles
versos sobre pássaros – sobre animais – que eram de algum modo eternos,
intemporais, porque viviam no presente?
Somos mortais porque vivemos no passado e no futuro – porque lembramos
um tempo em não existíamos e antevemos
um tempo em que estaremos mortos. Aqueles versos chegaram a mim através
de sua música. Eu pensava que a
linguagem fosse um modo de dizer as coisas, de externar queixas, de dizer
que se estava feliz ou triste, etc.
Mas quando escutei aqueles versos (e os continuo escutando, em certo
sentido, desde então), soube que a linguagem
podia também ser música e paixão. E assim me foi revelada a poesia.

Divertiu-me uma idéia – a idéia de que, embora a vida de uma pessoa seja
composta de milhares e milhares de
momentos e dias, esses muitos instantes e esses muitos dias podem ser
reduzidos a um único: o momento em que
a pessoa sabe quem é, quando se vê diante de si.


[...]   

*Jorge Luis Borges*
(Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo)
Em “Esse Ofício do Verso”, São Paulo, Editora Companhia das Letras, 1ª Edição, 2000.

Nenhum comentário: