domingo, 17 de outubro de 2021

Cantilena
 
                                                              A Olavo Bilac
 
Fazem hoje vinte anos,
Que saí de minha terra...
Fazem hoje vinte anos,
Que deixei o Maranhão.
Os destinos inumanos
Desde então me fazem guerra...
Os destinos inumanos
Me maltratam desde então!
Fazem hoje vinte anos,
Que deixei o Maranhão!
 
No instante da despedida,
Meu pai chorava deveras...
No instante da despedida,
Minha mãe quase morreu!
A minha gente querida
Verteu lágrimas sinceras!
A minha gente querida
Mais de mil beijos me deu!
No instante da despedida,
Minha mãe quase morreu!

Pobre mãe! Vociferando,
Não deixava que eu partisse...
Pobre mãe! Vociferando,
Não me queria soltar!
Meu pai disse-lhe, chorando:
– ‘Deixe o rapaz! que tolice!’
Meu pai disse-lhe, chorando:
– ‘Sossegue, que há de voltar!...’
Pobre mãe! Vociferando,
Não me queria soltar!
 
Eles ambos lá se foram...
Perdi-os, infelizmente!
Eles ambos lá se foram...
Já não tenho mãe nem pai!
Os meus olhos inda choram,
Porque meu peito inda sente!
Os meus olhos inda choram...
Vede: uma lágrima cai!
Eles ambos lá se foram...
Já não tenho mãe, nem pai!

                                                                    31 de agosto de 1893.


*Arthur Azevedo*
Em “SUPLEMENTO LITERÁRIO DE 'A MANHÃ', Num. 10”, pág. 176, publicado em 19/10/1941.

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