segunda-feira, 11 de outubro de 2021

À MINHA NOIVA 

‘Tu és flor; as tuas pétalas 
orvalho lúbrico molha; 
eu sou flor que se desfolha 
no verde chão do jardim.’ 
Têm por moda agora os líricos 
versos fazer neste estilo... 
– Tu és isso, eu sou aquilo, 
tu és assado, eu assim... 

Às negaças deste gênero, 
Carlotinha, não resisto: 
vou dizer que tu és isto, 
que aquilo sou vou dizer; 
tu és um pé de camélia, 
eu sou triste pé de alface, 
tu és a aurora que nasce, 
eu sou fogueira a morrer.

Tu és a vaga pacífica, 
eu sou a onda encrespada, 
tu és tudo, eu não sou nada, 
nem por descuido doutor; 
tu és de Deus uma lágrima, 
eu sou de suor um pingo, 
eu sou no amor o gardingo, 
tu Hermengarda no amor. 

Os fatos restabeleçam-se, 
ó dona dos pés pequenos: 
eu sou homem – nada menos, 
tu és mulher – nada mais; 
eu sou funcionário público, 
tu minha esposa bem cedo, 
eu sou Arthur Azevedo, 
tu és Carlota Morais.” 

*Arthur Azevedo*
(Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo)
Em “Toda a Poesia: Antologia Poética”, Seleção e organização Iba Mendes, 
Livro 598, São Paulo, Poeteiro Editor Digital, 2015. 

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