segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Ambiciosa

Para aqueles fantasmas que passaram,  
Vagabundos a quem jurei amar,  
Nunca os meus braços lânguidos traçaram  
O voo dum gesto para os alcançar...
 
Se as minhas mãos em garra se cravaram  
Sobre um amor em sangue a palpitar...  
– Quantas panteras bárbaras mataram  
Só pelo raro gosto de matar!
 
Minha alma é como a pedra funerária  
Erguida na montanha solitária  
Interrogando a vibração dos céus!
 
O amor dum homem? – Terra tão pisada!  
Gota de chuva ao vento baloiçada...  
Um homem? – Quando eu sonho o amor dum deus!...


*Florbela Espanca*
Em “SONETOS COMPLETOS – Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade,
Charneca em Flor, Reliquiae
”, Coimbra, Editora Livraria Gonçalves, 8ª Edição, 1950.

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