domingo, 21 de novembro de 2021

PARTE XIV

A descoberta do mundo


[...]

Um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher
que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente
que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.

A alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece
que só se as viu depois que tombaram.

Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é
tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama.
Há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou
uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível
e um mundo impalpável.
Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando
consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.

Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável,
e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto.


[...]

*Clarice Lispector*
Em “AS PALAVRAS”, Rio de Janeiro, Editora Rocco Ltda., 1ª Edição, 2013.

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