segunda-feira, 29 de novembro de 2021

 “Eu batia pé – porque era impertinente, e porque queria algo ‘agora’.
Um dos adultos, divertido, disse: – O agora nem existe!
Aborrecida, pedi a meu pai que me explicasse aquilo, e ele tentou:
– O tempo está sempre passando, é como a água de um rio, a cada
instante tudo muda. Até a gente não é a mesma pessoa de um
segundo atrás.
E acrescentou para eu entender melhor:
– Quando a gente começa a pensar a palavra ‘agora’, entre o primeiro
‘a’ e o ‘a’ final já transcorreu um tempinho, portanto nada é a
mesma coisa, e a cada momento a gente não é a mesma pessoa.
Levei dias procurando em vão empilhar as letras do ‘agora’ para que
fossem uma coisa só, num só instante. Mas não consegui enganar
a esfinge que nos proporciona pequenos milagres e grandes tragédias,
no duelo das ideias e das palavras ansiosas.


*Lya Luft*
Em “O Tempo é um Rio que Corre”, Rio de Janeiro, Editora Record, 1ª Edição, 2014.

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