domingo, 21 de novembro de 2021

 “ONDE ESTÁS?

É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
‘Vento frio do deserto,
Onde ela está?  Longe ou perto?’
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
‘Oh! Minh’amante, onde estás?...’

Vem! É tarde!  Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono!...
Stá vazio nosso leito...
Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu’eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! Minh’amante, onde estás?...

Estrela – na tempestade,
Rosa – nos ermos da vida;
lris – do náufrago errante,
Ilusão – d’alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
‘Oh! Minh’amante, onde estás?...’.


*Castro Alves*
Em “Poesias Completas (Espumas Flutuantes)”, Rio de Janeiro,
Volume II, Editora Spiker, 1967.

Nenhum comentário: