domingo, 15 de agosto de 2021

Noturno do Morro do Encanto

Este fundo de hotel é um fim de mundo!
Aqui é o silêncio que tem voz. O encanto
Que deu nome a este morro, põe no fundo
De cada coisa o seu cativo canto.

Ouço o tempo, segundo por segundo,
Urdir a lenta eternidade, enquanto
Fátima ao pó de estrelas sitibundo
Lança a misericórdia de seu manto.

Teu nome é uma lembrança tão antiga,
Que nem tem som nem cor, e eu, miserando,
Não sei mais como o ouvir, nem como o diga.

Falta a morte chegar… Ela me espia
Neste instante talvez, mal suspeitando
Que já morri quando o que eu fui morria.


*Manuel Bandeira*
Em “A cinza das horas, Carnaval e O ritmo dissoluto”,
Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1ª Edição, 2008.

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