domingo, 29 de agosto de 2021

 “Casas

A casa de Herédia, com grandes sonetos dependurados como panóplias
E escadarias de terceiro ato,
A casa de Rimbaud, com portas súbitas e enganosos corredores, casa-
diligência-navio-aeronave-pano, onde só não se perdem os
sonâmbulos e os copos de dados,
A casa de Apollinaire, cheia de reis de França e valetes e damas dos
quatro naipes e onde a gente quebra admiráveis vasos barrocos
correndo atrás de pastorinhas do século XVIII,
A casa de William Blake, onde é perigoso a gente entrar, porque pode
nunca mais sair de lá,
A casa de Cecília, que fica sempre noutra parte...
E a casa de João-José, que fica no fundo de um poço, e que não é
propriamente casa, mas uma sala de espera no fundo do poço.


*Mario Quintana*
Em “O aprendiz de feiticeiro”, São Paulo, Editora Globo, 2ª reimpressão, 2005.

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