sábado, 8 de maio de 2021

 “Olhos nuns olhos

De onde vêm, aonde vão teus olhos, criança,
tão cansados assim de caminhar?
Dessa tua existência nova e mansa
como pode provir um tal pesar?

A alma de fantasia não se cansa!
Nunca existiu tristeza nesse olhar;
é que a minha mortal desesperança
te olha e nos olhos teus vai-se espelhar.

Com toda a vista em tua vista presa,
penso: uma dor tão dolorosa assim
só há na minha interna profundeza...

Não me olhes mais, formoso querubim!
Que vejo nos teus olhos a tristeza
dos meus olhos olhando para mim.


*Gilka Machado*
Em “Poesias Completas, Gilka Machado”, Rio de Janeiro,
Editora Cátedra-Brasília/INL, 1ª Edição, 1978.

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