sábado, 22 de maio de 2021

 “O Deus de cada homem

Quando digo ‘meus Deus’
afirmo a propriedade.
Há mil deuses pessoais
em nichos da cidade.

Quando digo ‘meu Deus’,
crio cumplicidade.
Mais fraco, sou mais forte
do que a desirmandade.

Quando digo ‘meu Deus’,
grito minha orfandade.
O rei que me ofereço
rouba-me a liberdade.

Quando digo ‘meu Deus’,
choro minha ansiedade.
Não sei que fazer dêle na micro-eternidade.


*Carlos Drummond de Andrade*
Em “Poesia Completa”, Rio de Janeiro,
Editora Nova Aguilar, Volume Único, 3ª edição, 2002.

Nenhum comentário: