“Era uma vez
Quando eu era pequenino,
Gostava de ouvir contar
Histórias de princesinhas
Encantadas ao luar.
Havia então lá em casa
Uma criada velhinha:
A Sérgia contava histórias
– e que graça que ela tinha!
Lendas de reis e de fadas,
Inda me encheis a lembrança!
Que saudades de vós tenho;
Ó meus contos de criança!
‘Era uma vez...’ As histórias
Começavam sempre assim;
E eu, então, sem me mexer,
Ouvia-as até ao fim.
Lembro-me ainda tão bem!
Os irmãos à minha beira,
Calados! E a boa Sérgia
Contava desta maneira:
‘Era uma vez...’ E, depois,
Olhos fitos nos meus lábios,
Ouvia contos sem conta
De gigantes e de sábios...
‘Era uma vez...’ E, por fim,
A voz da Sérgia parava...
E assim como eu te contei
Era como ela contava.
Ai! Que saudade, que pena,
Que nos meus olhos tu vês!
Eu sentava-me e ela, então,
Começava: – ‘Era uma vez...’
Mas já a Sérgia, nós sentados,
contava: ‘Era uma vez...’.”
*Adolfo Simões Müller*
Em “O Príncipe Imaginário e outros Contos Tradicionais Portugueses”,
Lisboa, Distri Editora, 1985.
domingo, 30 de maio de 2021
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