quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

"Poema transitório

Eu que nasci na Era da Fumaça: - trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
pastéis
pés-de-moleque
sonhos
- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar:
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando
sempre... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!
...no entanto
eu gostava mesmo era de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.
"
  
*Mario Quintana*
Em “Mario Quintana - Poesia Completa”, Rio de Janeiro,
Editora Nova Fronteira, Volume Único, 1ª Edição, 2005.

                                                              

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