quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

[...]

E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha
verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia.
Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar.
Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não
conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha
solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de
artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que
na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu
nome em segredo. Preciso de segredos para viver.

Para cada um de nós e - em algum momento perdido na vida
- anuncia-se uma missão a cumprir? Recuso-me porém a qualquer
missão. Não cumpro nada: apenas vivo.


[...]

*Clarice Lispector*

  Extraído de “Água Viva”, Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1ª Edição, 1973.

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