terça-feira, 15 de janeiro de 2013

"Névoa...

Que densa névoa cobre a terra inteira!
Dir-se-ia que pousou na terra o próprio céu...
E lembra uma andorinha prisioneira
Dum condor que sobre ela as asas estendeu.

Moldados pela noite à sua negra imagem,
Cismam meus olhos fundos como um rio.
Tornam mais densa ao longe a noite da paisagem
Os montes dum perfil ascético e sombrio.

E esqueço-me a pensar se tudo o que me envolve,
As árvores, os montes e os rochedos,
Não é um sonho só que em névoa se dissolve,
Como ao quebrar da luz, sombras, noturnos medos.

Tão ausente me sinto, tão distante,
Que um sonho me parece a própria vida;
A névoa cresce, aumenta a cada instante...
E a minha sombra jaz na sombra confundida...
"

*Anrique Paço D’Arcos*

Em “Poesias Completas - Biblioteca de autores portugueses”, Porto/Portugal, 
(INCM) Editora Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2ª Edição, 2006.

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