quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Anoitecer

A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos de amor pra toda a gente!
E a minha alma, sombria e penitente
Soluça no infinito desta hora!

Horas tristes que vão ao meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Ó meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho...
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...


*Florbela Espanca*

 Em “Obras Completas de Florbela Espanca”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1ª Edição, 1985.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Elaine.

Florbela sabia pintar como poucos as fases da lua que levantavam ondas de lirismo dentro dela.

Belíssimo poema, bom gosto sublime, o seu.

Elaine Bastos disse...

Boa noite, Moacir!

Suas palavras adornam com singeleza e beleza o meu espaço...
Gratíssima por seu comentário e pelas gentis palavras.
Deixo-lhe o meu afeto.