terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Romance de Cabiúna

Cabiúna era menino
E dizia: ‘Eu vou na Europa’.
A mãe dele respondia:
‘ – Fica quieto, Cabiúna.
Cabiúna, não me amola’.

A mãe dele não gostava.
Ralhava sempre, ralhava...
De dia ela costurava
Em frente ao mar, na janela.
E, costurando, cantava.

‘ – Minha mãe, eu cresço logo,
Fico grande e vou na Europa.
Deixa eu ir, minha mãezinha?’
‘ – Que menino sem cabeça!
Sai daqui, não me aborreça.’
‘ – Deixa eu ir, minha mãezinha...’

Mas toda noite ela entrava
No quarto em que ele dormia
E, junto dele, chorava.
Cabiúna ficou grande,
Ficou grande e foi-se embora.
Trabalhando de taifeiro
Num navio brasileiro.

Aconteceu que uma noite,
Junto de um cais estrangeiro,
Virou criança: chorava.
Alguém, passando, assobiava
Uma canção parecida
Com as que a mãe dele cantava.


*Ribeiro Couto*

Em “POESIA BRASILEIRA PARA A INFÂNCIA, CASSIANO NUNES E MÁRIO DA SILVA BRITO”, 
São Paulo, Editora Saraiva, 1968.

Nenhum comentário: