domingo, 17 de dezembro de 2017

Acontecimento

Aqui estou, junto à tempestade,
chorando como uma criança
que viu que não eram verdade
o seu sonho e a sua esperança.

A chuva bate-me no rosto
e em meus cabelos sopra o vento.
Vão-se desfazendo em desgosto
as formas do meu pensamento.

Chorarei toda a noite, enquanto
perpassa o tumulto nos ares,
para não me veres em pranto,
nem saberes, nem perguntares:

‘Que foi feito do teu sorriso,
que era tão claro e tão perfeito?’
E o meu pobre olhar indeciso
não te repetir: ‘Que foi feito...?’


*Cecilia Meireles*
Em “VIAGEM - VAGA MÚSICA”, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2ª Edição, 1982.

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