domingo, 10 de dezembro de 2017

Na grande noite tristonha

Na grande noite tristonha,
Meu pensamento parado
Tem quietudes de cegonha
Numa beira de telhado.

− Na grande noite tristonha...

Lembram planícies desertas
De uma paisagem do Norte,
As perspectivas abertas
No mundo da minha sorte...

− Lembram planícies desertas...

Ao longe, distancias ermas...
Em tudo quanto se abarca
Há ligeirezas enfermas
De luas da Dinamarca...

− Ao longe, distancias ermas...
Em tudo quanto se abarca
Há ligeirezas enfermas
De luas da Dinamarca...

− Ao longe, distancias ermas...

E sob olhares em pranto
De estrelas alucinadas,
Vais – coroa, cetro e manto,
Ó Rei das minhas baladas!

− E sob olhares em pranto...

.......................................................

Na grande noite tristonha,
Meu pensamento parado
Tem quietudes de cegonha
Numa beira de telhado.

− Na grande noite tristonha...

E eu sonho o meu sonho oculto
De ave triste – que não voa,
Detida a ver o teu vulto
De cetro, manto e coroa...

− Eu sonho o meu sonho oculto...


*Cecília Meireles*
Em “BALADAS PARA EL-REI”, São Paulo, Editora Global, 2ª edição, 2017.

Nenhum comentário: