terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Abrigo Celeste

Estrela triste a refletir na lama,
Raio de luz a cintilar na poeira,
Tens a graça sutil e feiticeira,
A doçura das curvas e da chama.

Do teu olhar um fluido se derrama
De tão suave, cândida maneira
Que és a sagrada pomba alvissareira
Que para o Amor toda a minh’alma chama.

Meu ser anseia por teu doce apoio,
Nos outros seres só encontra joio,
Mas só no teu todo o divino trigo.

Sou como um cego sem bordão de arrimo
Que do teu ser, tateando, me aproximo,
Como de um céu de carinhoso abrigo.

*Cruz e Sousa*
Em “Últimos Sonetos de Cruz e Sousa”, Forianópolis-Rio de Janeiro, 
Editora da UFSC/Co-edição Fundação Casa de Rui Barbosa, 3ª Edição Revista, 1997.

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