sábado, 13 de abril de 2013

"Soneto do Equívoco

Como se eu fosse este ar que atravessaste,
conservo em mim o rastro reticente
de linhas de água, fogo, asa e serpente,
composição de Deus erguida em haste.

Como se fosse o rio que cruzaste,
sonho uma barca de ouro transcendente,
que me navega tempestuosamente
com seus remos de música e contraste.

Como se fosse o espelho em que te viste,
fende-se em minha sombra um cristal triste.
(Flores e ninhos buscam tua mão.)

Como se fosse o deus a quem amasses,
compreendo o fluido rosto de mil faces,
do alto leio a raiz no último chão.
"

*Abgar Renault*

Em “SONETOS ANTIGOS”, Belo Horizonte, Imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, 1968.

Nenhum comentário: