domingo, 7 de abril de 2013

Ângelus

Ao crepúsculo, à hora da tristeza,
Quando passam noivando as andorinhas,
Na sugestiva paz da natureza
Pobre de mim! Sinto saudades minhas.

Um desalento d’alma que entorpece,

Um misto de saudade e apatia.
Banhado em sangue o sol desaparece
E lá se vai com o sol a minha alegria.

Um barulho festivo de asa com asa

Anda pelo alto e em mim – tédio e preguiça.
Da gameleira junto à minha casa
Cai uma folha anêmica e outoniça.

Cantam de longe. É a voz de alguma escrava.

Parece assim plangente e merencória,
A cantiga infantil que me ninava
E que eu guardo no fundo da memória.

A paisagem, num roxo doloroso,

Se desdobra num pálio de ametista.
Como dói o cortejo silencioso
Do pôr do sol num coração de artista!

As águas bolem... Passa de momento

Uma abelha, as antenas de ouro e pólen.
Bolem as folhas no hálito do vento,
Bole minh’alma como as folhas bolem.

Desaparece o sol... De estrada em fora

Há lamúrias e prantos de infortúnio.
Atreva chega... A noite desce... Agora
Brilha, em forma de alfanje, o novilúnio.
”    

*Olegário Mariano*
Em “Tôda Uma Vida De Poesia - Poesias Completas”, Rio de Janeiro, 
Livraria José Olympio Editôra, 1ª Edição, 1958.

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