terça-feira, 2 de abril de 2013

He hum não querer mais que bem querer; (Camões)

II

Meu amor, meu Amado, vê... repara:
Pousa os teus lindos olhos de oiro em mim,
 
Dos meus beijos de amor Deus fez-me avara
Para nunca os contares até ao fim.

Meus olhos têm tons de pedra rara

  É só para teu bem que os tenho assim
E as minhas mãos são fontes de água clara
A cantar sobre a sede dum jardim.

Sou triste como a folha ao abandono

Num parque solitário, pelo Outono,
Sobre um lago onde vogam nenúfares...

Deus fez-me atravessar o teu caminho...

Que contas dás a Deus indo sozinho,
Passando junto a mim, sem me encontrares?

*Florbela Espanca*
Em “Obras Completas de Florbela Espanca”, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1ª Edição, 1985.

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